Uma Noite em Agradável Companhia...
Dia 13 de junho de 2013, Teatro Sérgio Cardoso em SP.
A São Paulo Companhia de Dança iniciou mais uma etapa em sua história: o segundo programa da Temporada TSC, onde durante quatro dias (quinta à domingo) serão encenadas as obras Theme and Variations, de George Balanchine; Seis Danças, de Jirí Kylián e a estreia nacional de Peekaboo, criada por Marco Goecke especialmente para a SPCD.
Quando eu cheguei ao teatro na quinta, por volta das 19:45, eu realmente não sabia o que esperar de um programa que vai do clássico, que eu já estou mais acostumada a assistir, ao contemporâneo, que confesso, ainda é um campo que eu tenho um pouco de dificuldades para entender. Qual seria a minha reação? Será que eu iria gostar daquelas peças tanto quanto das obras do repertório clássico mundial que eu amo e admiro? A verdade é só uma, foi uma noite repleta das mais diversas sensações...
Depois de retirar meu par ingressos na bilheteria (para minha mãe e eu), e pegar nossos Programas de Sala da SPCD, nossa primeira parada foi no espaço "Você é o Artista", onde em todas as apresentações uma bailarina da companhia tira fotos com o público vestida à caráter. As fotos são gratuitas, e depois divulgadas na fanpage da SPCD. Na última quinta foi a vez da Pilar Giraldo, que estava com o figurino de Theme and Variations. Até a minha mãe entrou na dança!!!
Às 20:00 estava marcado um bate-papo com a Inês Bogéa, diretora da SPCD, sobre os bastidores das obras que seriam apresentadas. Eu tive o grande prazer de conhecê-la pessoalmente... Ela é uma simpatia, um encanto de pessoa!!!
Durante a conversa, que durou cerca de meia hora, ela ficou quase o tempo todo em quarta posição, exceto em alguns momentos onde ela demonstrava algum passo de dança. Sempre que terminava de falar sobre uma peça, abria-se um espaço para o público tecer comentários, fazer perguntas... Eu cheguei a falar depois da explicação sobre Theme and Variations, mas vou confessar, eu não falei o que eu realmente queria! Eu estava tão interessada em aprender com alguém que tem tamanho conhecimento pra passar adiante que eu só fui lembrar mesmo na hora que começou a apresentação.
A Inês abordou vários aspectos de Theme and Variations: falou um pouco sobre a ligação de Balanchine com o Ballets Russes de Diaghileff, a criação da School of American Ballet em parceria com Lincoln Kirsten, e finalmente o surgimento do New York City Ballet, que no começo era chamado de Ballet Society. Na dança propriamente dita, Balanchine faz um grande tributo ao ballet clássico do séc XIX, porém ao longo da obra ele quebra o rigor inserindo elementos de outras modalidades como o Jazz, o Sapateado, o Can Can...
Mas eu sempre olho pra dança através da música. Eu já sabia disso há muito tempo, e só durante a apresentação eu tive plena certeza dessa afirmação, pois foi a partir dela que o ballet entrou na minha vida! Do ponto de vista musical, essa é uma obra curiosa, pois Balanchine num primeiro momento se utilizou apenas do último movimento da Suíte Orquestral nº 3 em Sol Maior, que é justamente um tema com doze variações, para montar a peça. Somente anos mais tarde, em 1970, é que ele decidiu também coreografar os três movimentos iniciais para criar algo ainda mais grandioso! E com esse "olhar sobre o passado no tempo presente", acredito eu que esse verdadeiro gênio faz uma releitura do Romantismo, onde as bailarinas usam vestidos longos feitos com tecidos muito leves (numa menção aos tutus românticos), porém com os cabelos soltos (quebrando a tradição dos coques bem presos), e pés descalços no primeiro movimento (Elégie). Nos dois quadros seguintes (Valse Mélancolique e Scherzo) as sapatilhas de ponta entram em cena, representando a inovação e a evolução que as mesmas ocasionaram no ballet, e a última parte mostra o período de florescimento do Classicismo na Dança que, ao contrário da Literatura, vem logo após o Romantismo.
A São Paulo Companhia de Dança iniciou mais uma etapa em sua história: o segundo programa da Temporada TSC, onde durante quatro dias (quinta à domingo) serão encenadas as obras Theme and Variations, de George Balanchine; Seis Danças, de Jirí Kylián e a estreia nacional de Peekaboo, criada por Marco Goecke especialmente para a SPCD.
Quando eu cheguei ao teatro na quinta, por volta das 19:45, eu realmente não sabia o que esperar de um programa que vai do clássico, que eu já estou mais acostumada a assistir, ao contemporâneo, que confesso, ainda é um campo que eu tenho um pouco de dificuldades para entender. Qual seria a minha reação? Será que eu iria gostar daquelas peças tanto quanto das obras do repertório clássico mundial que eu amo e admiro? A verdade é só uma, foi uma noite repleta das mais diversas sensações...
Depois de retirar meu par ingressos na bilheteria (para minha mãe e eu), e pegar nossos Programas de Sala da SPCD, nossa primeira parada foi no espaço "Você é o Artista", onde em todas as apresentações uma bailarina da companhia tira fotos com o público vestida à caráter. As fotos são gratuitas, e depois divulgadas na fanpage da SPCD. Na última quinta foi a vez da Pilar Giraldo, que estava com o figurino de Theme and Variations. Até a minha mãe entrou na dança!!!
Sessão de Fotos com a bailarina Pilar Giraldo
Pose de Bailarina
Minha mãe já não quis fazer pose...
Às 20:00 estava marcado um bate-papo com a Inês Bogéa, diretora da SPCD, sobre os bastidores das obras que seriam apresentadas. Eu tive o grande prazer de conhecê-la pessoalmente... Ela é uma simpatia, um encanto de pessoa!!!
Durante a conversa, que durou cerca de meia hora, ela ficou quase o tempo todo em quarta posição, exceto em alguns momentos onde ela demonstrava algum passo de dança. Sempre que terminava de falar sobre uma peça, abria-se um espaço para o público tecer comentários, fazer perguntas... Eu cheguei a falar depois da explicação sobre Theme and Variations, mas vou confessar, eu não falei o que eu realmente queria! Eu estava tão interessada em aprender com alguém que tem tamanho conhecimento pra passar adiante que eu só fui lembrar mesmo na hora que começou a apresentação.
A Inês abordou vários aspectos de Theme and Variations: falou um pouco sobre a ligação de Balanchine com o Ballets Russes de Diaghileff, a criação da School of American Ballet em parceria com Lincoln Kirsten, e finalmente o surgimento do New York City Ballet, que no começo era chamado de Ballet Society. Na dança propriamente dita, Balanchine faz um grande tributo ao ballet clássico do séc XIX, porém ao longo da obra ele quebra o rigor inserindo elementos de outras modalidades como o Jazz, o Sapateado, o Can Can...
Mas eu sempre olho pra dança através da música. Eu já sabia disso há muito tempo, e só durante a apresentação eu tive plena certeza dessa afirmação, pois foi a partir dela que o ballet entrou na minha vida! Do ponto de vista musical, essa é uma obra curiosa, pois Balanchine num primeiro momento se utilizou apenas do último movimento da Suíte Orquestral nº 3 em Sol Maior, que é justamente um tema com doze variações, para montar a peça. Somente anos mais tarde, em 1970, é que ele decidiu também coreografar os três movimentos iniciais para criar algo ainda mais grandioso! E com esse "olhar sobre o passado no tempo presente", acredito eu que esse verdadeiro gênio faz uma releitura do Romantismo, onde as bailarinas usam vestidos longos feitos com tecidos muito leves (numa menção aos tutus românticos), porém com os cabelos soltos (quebrando a tradição dos coques bem presos), e pés descalços no primeiro movimento (Elégie). Nos dois quadros seguintes (Valse Mélancolique e Scherzo) as sapatilhas de ponta entram em cena, representando a inovação e a evolução que as mesmas ocasionaram no ballet, e a última parte mostra o período de florescimento do Classicismo na Dança que, ao contrário da Literatura, vem logo após o Romantismo.
Poster de "Theme and Variations" no 2º andar do Teatro
Ainda sobre "Theme and Variations", a Inês confirmou a minha tese de que nenhuma apresentação é igual a outra... Os passos, as músicas, a história e o contexto podem até ser os mesmos, mas cada bailarino tem um estilo diferente: os mais delicados, os mais impactantes, os mais expressivos... E são essas características que no desenrolar de uma obra tornam a performance única! Eu particularmente gosto de observar essas peculiaridades. Pena que várias pessoas pensem o contrário: Que é uma perda de tempo assistir mais de uma mesma performance com bailarinos diferentes. Usando as palavras da Inês, a dança é algo que transcende a alma! Até quando um mesmo bailarino dança o mesmo papel em dois momentos distintos, não será igual... Mia Slavenska declara no documentário Ballets Russes que ela não dançava passos, e sim a música. Ela conta que chegou a dançar uma mesma coreografia de vários jeitos diferentes...
Como prova de que nenhuma produção é igual à outra, vejam as montagens abaixo. São três coreografias dançadas por bailarinos de várias épocas:
Como prova de que nenhuma produção é igual à outra, vejam as montagens abaixo. São três coreografias dançadas por bailarinos de várias épocas:
Grand Pas de Deux de Solor e Gamzatti - La Bayadère
Interpretado por 7 casais diferentes
Grand Pas de Deux do Cisne Negro - O Lago dos Cisnes
Interpretado por 4 casais diferentes
Adágio da Rosa - A Bela Adormecida
Interpretado por 11 bailarinas diferentes
Quando as cortinas se abriram eu quase perdi o fôlego! Aqueles lustres lindísimos que lembram um salão de baile da Rússia Imperial, a colocação dos bailarinos em cena à la Marius Petipa, os tutus bandeja e a belíssima música de Tchaikovsky, que todos sabem ser o meu compositor preferido!!! Aliás, ouso dizer que Balanchine também era fã de Tchaikovsky, haja visto grande o número de coreografias criadas utilizando as obras do compositor: Tchaikovsky Pas de Deux (também aqui e aqui), Serenade, Theme and Variations, Diamantes de Jewels, e sua própria versão de O Quebra-Nozes, isso só pra citar alguns exemplos...
Em vários momentos da apresentação me vieram lágrimas aos olhos, mas foi na cena final, com os 13 casais dançando a Grande Polonaise, que eu realmente me emocionei!!! Eu pude reconhecer nas coreografias os vários aspectos colocados durante a explanação da Inês, além de alguns passos que aparecem na mazurca dos Diamantes. Eu só posso resumir Theme and Variations em uma palavra: Emocionante!
A segunda obra apresentada foi Seis Danças (Sechs Tänze), com coreografia de Jirí Kylián e música do genial Amadeus Mozart. Eu já havia pesquisado a obra anteriormente e tinha muita vontade de conhecer, porém eu ainda sou meio resistente aos contemporâneos, e por isso fui adiando... Mas depois da apresentação eu fiquei me perguntando: Porque eu não assisti antes??? Eu simplesmente me apaixonei!!! É uma obra leve, fácil de acompanhar, os passos simplesmente fluem! Acho que foi essa conexão perfeita entre dança e música que mais me encantou.
Para quem ainda não conhece, Seis Danças é uma obra de 13 minutos, que satiriza com muito bom humor a época em que Mozart viveu. Desde a aristocracia com seus costumes antiquados até a batalha dos sexos, com uma divertida troca de papéis entre homens e mulheres sob vários aspectos. Os figurinos são uma espécie de "roupas de baixo" usadas no século XVIII: Os homens aparecem com o tronco nu e usam perucas, que quando sacudidas soltam pó, enquanto que as mulheres vestem corpetes e saias longas. Até as roupas de baile aparecem em cena aonde ninguém menos espera... A alegria da música de Mozart unida a coreografia de Kylián tornou a peça muito engraçada, daquelas que faz você rir mesmo!
De acordo com as palavras da Inês durante a explicação da obra, é difícil fazer comédia na dança. E essa afirmação também se estende a outras vertentes como a Ópera.
A trilha utilizada foi as Seis Danças Alemãs, KV 571, criada em 1789, ano em que se iniciou a Revolução Francesa. Kylián também faz uma menção a esse fato histórico durante a apresentação.
Resumindo: Seis Danças ganhou meu coração!!!!
A última apresentação da noite foi a estreia nacional de Peekaboo, cuja primeira performance ocorreu nesse ano no Festival Movimentos em Wolfsburg, Alemanha. Quando começou a explanar esse tema, a Inês falou sobre os processos de criação de uma obra, que podem ser bem variados: um coreógrafo pode simplesmente chegar com um projeto pronto, ou então jogar uma ideia inicial e ir moldando aos poucos, com a ajuda dos próprios bailarinos. É nesse segundo caso que entra a criação de Peekaboo.
A peça, concebida por Marco Goecke especialmente para a SPCD, foi baseada em uma brincadeira de esconder e aparecer, que nos remete à infância. E sua coreografia nasceu da conexão de várias ideias que foram surgindo, muitas delas anotadas em um carderno... Os movimentos rápidos de braços e pernas me lembraram o tempo inteiro de uma criança quando fica esperneando e chorando por alguma coisa.
A única coisa que o coreógrafo sabia de pronto era que, desde o início, ele usaria como trilha a Simple Symphony de Benjamin Britten, que traz esse ar saudosista. Mas durante os ensaios ele resolveu inserir também o coro finlandês Mieskuoro Huutajat, composto por trinta vozes masculinas, que não cantam, mas gritam em determinados momentos do espetáculo com o intuito de quebrar o clima e nos trazer de volta à realidade atual. Eu amei a música de Britten, e a combinação proposta pelo coreógrafo foi bem interessante...
Em vários momentos da apresentação me vieram lágrimas aos olhos, mas foi na cena final, com os 13 casais dançando a Grande Polonaise, que eu realmente me emocionei!!! Eu pude reconhecer nas coreografias os vários aspectos colocados durante a explanação da Inês, além de alguns passos que aparecem na mazurca dos Diamantes. Eu só posso resumir Theme and Variations em uma palavra: Emocionante!
A segunda obra apresentada foi Seis Danças (Sechs Tänze), com coreografia de Jirí Kylián e música do genial Amadeus Mozart. Eu já havia pesquisado a obra anteriormente e tinha muita vontade de conhecer, porém eu ainda sou meio resistente aos contemporâneos, e por isso fui adiando... Mas depois da apresentação eu fiquei me perguntando: Porque eu não assisti antes??? Eu simplesmente me apaixonei!!! É uma obra leve, fácil de acompanhar, os passos simplesmente fluem! Acho que foi essa conexão perfeita entre dança e música que mais me encantou.
Para quem ainda não conhece, Seis Danças é uma obra de 13 minutos, que satiriza com muito bom humor a época em que Mozart viveu. Desde a aristocracia com seus costumes antiquados até a batalha dos sexos, com uma divertida troca de papéis entre homens e mulheres sob vários aspectos. Os figurinos são uma espécie de "roupas de baixo" usadas no século XVIII: Os homens aparecem com o tronco nu e usam perucas, que quando sacudidas soltam pó, enquanto que as mulheres vestem corpetes e saias longas. Até as roupas de baile aparecem em cena aonde ninguém menos espera... A alegria da música de Mozart unida a coreografia de Kylián tornou a peça muito engraçada, daquelas que faz você rir mesmo!
De acordo com as palavras da Inês durante a explicação da obra, é difícil fazer comédia na dança. E essa afirmação também se estende a outras vertentes como a Ópera.
A trilha utilizada foi as Seis Danças Alemãs, KV 571, criada em 1789, ano em que se iniciou a Revolução Francesa. Kylián também faz uma menção a esse fato histórico durante a apresentação.
Resumindo: Seis Danças ganhou meu coração!!!!
Cena de Sechs Tänze, por João Caldas
A última apresentação da noite foi a estreia nacional de Peekaboo, cuja primeira performance ocorreu nesse ano no Festival Movimentos em Wolfsburg, Alemanha. Quando começou a explanar esse tema, a Inês falou sobre os processos de criação de uma obra, que podem ser bem variados: um coreógrafo pode simplesmente chegar com um projeto pronto, ou então jogar uma ideia inicial e ir moldando aos poucos, com a ajuda dos próprios bailarinos. É nesse segundo caso que entra a criação de Peekaboo.
A peça, concebida por Marco Goecke especialmente para a SPCD, foi baseada em uma brincadeira de esconder e aparecer, que nos remete à infância. E sua coreografia nasceu da conexão de várias ideias que foram surgindo, muitas delas anotadas em um carderno... Os movimentos rápidos de braços e pernas me lembraram o tempo inteiro de uma criança quando fica esperneando e chorando por alguma coisa.
A única coisa que o coreógrafo sabia de pronto era que, desde o início, ele usaria como trilha a Simple Symphony de Benjamin Britten, que traz esse ar saudosista. Mas durante os ensaios ele resolveu inserir também o coro finlandês Mieskuoro Huutajat, composto por trinta vozes masculinas, que não cantam, mas gritam em determinados momentos do espetáculo com o intuito de quebrar o clima e nos trazer de volta à realidade atual. Eu amei a música de Britten, e a combinação proposta pelo coreógrafo foi bem interessante...
Poster de "Peekaboo" também no 2º andar do Teatro
Os figurinos são muito simples, e como objeto cênico Goecke inseriu o chapéu coco, que foi iconizado por Charles Chaplin. Sobre os chapeus ele conta: "Sempre tive vontade de usar esse chapéu. Comprei dois para mim, mas nunca tive coragem de sair às ruas com eles porque sou tímido. Então eu os coloquei na obra".
Uma vez eu ouvi de um professor de piano sobre a importância de se assistir um espetáculo ao vivo. Ele pode não ter se expressado da melhor forma na ocasião, mas nesse sentido eu dou razão a ele. Prestigiar um espetáculo, seja de ópera, ballet ou concerto, é sempre uma experiência transformadora, onde você sai da sessão totalmente modificado, seja pelo encanto, pela emoção, pelo impacto, pelo aprendizado, ou talvez um mix de tudo isso e mais um pouco. Em poucas palavras: foi maravilhoso!!! Posso pedir bis????
Ah!!! E pra encerrar a noite com chave de ouro, ao final do espetáculo eu consegui um poster de Peekaboo autografado pelos bailarinos^^.
Ah!!! E pra encerrar a noite com chave de ouro, ao final do espetáculo eu consegui um poster de Peekaboo autografado pelos bailarinos^^.
Os bailarinos da SPCD autografando meu poster de Peekaboo
*Essa foto foi divulgada hoje (26/06) no blog da companhia. Pra ler a postagem completa, aqui.
Um grande beijo à todos!
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