SPCD, A História: Primeiro Capítulo

E aí galera, tudo bem com vocês???

Sabe, esses quase quatro anos de blog me fizeram descobrir um talento: o de contar histórias. Eu já fui questionada sobre o porquê de manter a frequência de uma postagem por semana e a resposta é muito simples! O foco do blog é a qualidade das postagens que são feitas, a quantidade acaba sendo uma consequência. Eu gosto de trazer pra vocês as histórias dos repertórios, dos coreógrafos, dos compositores, das inspirações que geraram a criação de uma peça que, como já falei, pode ser das mais variadas... É bem verdade que às vezes escrevo “postagens relâmpago”, mas ainda assim não deixo de faze-las, pois o meu desejo de compartilhar é muito grande!
E hoje eu tenho uma nova história pra contar. Não é de nenhum ballet em especial, mas sim sobre uma oportunidade que eu tive, e que mencionei que estava preparando um post a respeito, lembram?
Mas antes, eu tenho uma pergunta: alguém aqui já parou pra pensar como é o dia a dia de uma companhia profissional? Nós sabemos muito bem que a vida de um bailarino não se resume apenas a espetáculos com cenários e figurinos lindíssimos. A estrutura e a rotina de uma companhia são bem mais complexas do que imaginamos...
Quando vi pela primeira vez o documentário “Canteiro de Obras” que fala sobre a Criação da São Paulo Companhia de Dança, me surgiu um desejo enorme visita-los. Eis que no ano passado eu entrei em contato e eles abriram um espaço pra que eu pudesse conhecê-los mais a fundo, e cá estou para dividir essa experiência com vocês: a minha aventura na São Paulo Cia de Dança.
É bem verdade que já faz quase um ano que estive lá, e que por isso algumas informações que me foram contadas já aconteceram... Mas mesmo tendo passado tanto tempo eu optei por colocá-las nesta série de matérias, afinal elas fazem parte da história da SPCD, certo? Então se preparem, pois a partir desse momento iniciaremos uma grande viagem pelos cinco anos de história dessa companhia tão nova, e que durará cinco capítulos, onde certamente muitos irão se emocionar...
Oficina Cultural Oswald de Andrade, em SP

A Recepção:
Na manhã do dia 29 de outubro de 2012 eu estive na sede da SPCD, localizada dentro da Oficina Cultural Oswald de Andrade, em São Paulo. Eu fui recebida pelo Renan Teixeira, que primeiramente me levou a uma das salas para assistir um pouco da aula de ballet da companhia. A primeira coisa que me chamou a atenção foi o fato das músicas serem tocadas por uma pianista, o que não é muito comum no dia a dia da maioria das escolas de ballet. Isso acontece porque é difícil encontrar profissionais especializados na área e os mesmos cobram caro por cada hora trabalhada. Somente nas companhias profissionais e nas grandes escolas de formação como a Escola de Dança de São Paulo, a escola do Municipal do Rio de Janeiro e a Escola do Teatro Bolshoi no Brasil (entre outras) é que há essa oportunidade.
E como amante dos ballets de repertório, eu não pude deixar de reconhecer algumas músicas que tocaram na ocasião: a Habanera de Carmen, a Variação de Albrecht do segundo ato de Giselle, o Prelúdio de Les Sylphides, Fascinatin' Rhythm de Who Cares? e a Valsa das Princesas do terceiro ato de O Lago dos Cisnes. Eu não me lembro de todas, mas tenho quase certeza que também tocou a Valsa das Guirlandas do primeiro ato da Bela Adormecida.
Mas músicas a parte, o que mais me deixou impressionada de fato foi o desempenho dos bailarinos. Eu assisti ao final da aula de barra e o começo da de centro/diagonais. Fica muito claro que ali se respira dança 24 horas por dia! E não somente isso, uma aula de ballet em uma companhia é diferente:
“...Das roupas das bailarinas à estrutura da aula, é completamente diferente do que estamos acostumadas nas nossas aulas. Não se perde tempo, cumpre-se horário, a professora não grita, as bailarinas não reclamam. Há disciplina sem sisudez...”
Cássia Pires, blog Dos Passos da Bailarina. A postagem completa vocês podem conferir aqui.
Bailarinos da SPCD em aula
(Retirado do face da Companhia)

Concordo plenamente com a Cássia. Ali todos são profissionais e cada um deve dar o melhor si para o que o rendimento seja satisfatório. É realmente impressionante! Sem contar que é uma grande oportunidade de aprender pela observação.
Acredito que eu tenha ficado uns 20 minutos na sala de aula até ser apresentada a Marcela Benvegnu, Coordenadora de Educativo e Memória da SPCD, que me recebeu e compartilhou comigo um pouco sobre a história da companhia:

“A São Paulo Companhia de Dança (SPCD) foi criada pelo governo do estado de São Paulo em 2008 como uma companhia de repertório. Apesar do termo “repertório” ser frequentemente associado às peças produzidas durante o século XIX, entre os períodos Romântico e Clássico, seu significado é muito mais amplo, e no caso também pode se referir a todo conjunto de obras encenadas, independente do período em que foram criadas. Aqui na SPCD nós temos um acervo bem variado, que inclui remontagens de obras internacionais e também obras inéditas, criadas especialmente para a companhia”.

Dançando por Aí...
“A companhia é dividida em três vertentes. O eixo principal (o coração da SPCD) é a Produção e a Circulação de Espetáculos. Desde a criação a companhia já produziu 27 obras, mais de 300 espetáculos em 45 cidades e vista por um público de mais de 300 mil pessoas. Essa circulação nós realizamos no Brasil todo, com uma grande ênfase no interior, para dividir essa dança com o estado de SP, e também no exterior”.

A SPCD já realizou ao todo três turnês europeias: em 2011 na cidade de Baden-Baden na Alemanha, com as obras Polígono, de Alessio Silvestrin; Os Duplos, de Maurício de Oliveira; Sechs Tanze, de Jirí Kylian e Serenade, de George Balanchine.

Em 2012 foi a vez das cidades de Haia na Holanda e Neuss na Alemanha receber a SPCD durante os festivais Holland Dance Festival e Internacionale Tanz Wochen. As obras apresentadas foram Os Duplos, de Maurício de Oliveira; Inquieto, de Henrique Rodovalho; Gnawa, de Nacho Duato e Supernova, de Marco Goecke.
Cena de Supernova
Crédito: Wilian Aguiar

Neste ano a companhia passou pelas cidades de Wolfsburg, para o Festival Movimentos Festwochen Der Autostadt, Ludwigsburg, Fulda e Ludwigshafen na Alemanha, e Bregenz na Áustria para o Tanz Festival 2013 - Bregenzer Fruhling. Durante a turnê houve a estreia de Peekaboo, criada especialmente para a SPCD por Marco Goecke. Além dessa também foram apresentadas as coreografias Bachiana Nº 1, de Rodrigo Pederneiras; Inquieto, de Henrique Rodovalho; Gnawa, de Nacho Duato e Supernova, de Marco Goecke.
Nielson Souza e Morgana Cappellari em Peekaboo
Crédito: Marcela Benvegnu


E agora em setembro a companhia parte para uma nova turnê internacional, desta vez aqui mesmo na América do Sul. No próximo dia 16 a companhia se apresenta em Rosário, na Argentina, com as obras Bachiana nº 1, de Rodrigo Pederneiras; In The Middle, Somewhat Elevated, de William Forsythe; e Supernova, de Marco Goecke.

Logo em seguida, a SPCD parte para Montevidéu, no Uruguai, onde de 19/09 à 22/09 estará em cartaz no Auditório Nacional Del Sodre com as coreografias Bachiana nº 1, de Rodrigo Pederneiras; Supernova, de Marco Goecke; e Por Vos Muero, de Nacho Duato.
Fabiana Ikehara e Nielson Souza em Por Vos Muero
Crédito: Silvia Machado

Esses são apenas os primeiros passos de uma longa caminhada que está contribuindo mais ainda para a continuação da construção da História da Dança no Brasil.

“Na área de circulação nós temos o “Programa de Sala”, que é um material produzido onde são contextualizadas as obras que serão apresentadas em cada récita, os profissionais envolvidos (músicos, coreógrafos, cenógrafos...), e principalmente as datas, pois assim podemos construir um material de memória e olhar pra história da companhia através desses programas. A cada temporada nós criamos um programa novo, e nós sempre convidamos um artista para ilustrar a capa, a fim dar voz a esses profissionais para que eles possam colaborar com conosco, trazendo um olhar diferente do que estamos acostumados”.

Não pensem vocês que a história da companhia termina por aqui... Ainda temos muito chão pela frente, e se você está curioso para saber como a história continua, é só passar por aqui amanhã para ler o segundo capítulo dessa emocionante história que é construída dia a dia!

Espero vocês amanhã?

*Entrevista com Marcela Benvegnu, Coordenadora de Educativo, Memória e Comunicação, realizada em 29/10/2012 na sede da SPCD, em São Paulo/SP

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