Ballet "A Bela Adormecida"
Devido a alguns altos e baixos que aconteceram essa semana, não consegui fazer a postagem na quarta-feira. Antes que perguntem, eu já respondo: não tem nada a ver com o servidor! Sobre isso, está tudo sob controle. Mas, vamos ao que interessa!
Como sabem, as transmissões no cinema de 2017 já começaram com o pé direito! Depois de Romeu e Julieta com o Teatro Scala, hoje é a vez de trazer o primeiro ballet do Bolshoi exibido esse ano, em 22/01: A Bela Adormecida, com nada menos que Olga Smirnova no papel principal e a presença da nossa brasileira Bruna Gaglianone como a segunda fada madrinha!
Aliás, eu tenho uma pergunta: alguém aqui já parou para pensar no porquê de algumas produções apresentarem o baile de casamento do terceiro ato ao estilo da corte do Rei Luís XIV?
Para ser sincera com vocês, eu realmente achava que fosse invenção de moda ou até mesmo uma homenagem por parte de alguns coreógrafos, como é o caso das versões de Rudolf Nureyev (Ópera de Paris e Teatro Alla Scala) e Yuri Grigorovich (The Bolshoi Ballet), versões onde essa característica fica mais evidente. Mas eu percebi que estava redondamente enganada, que há um fundamento por trás dessa ambientação. Como eu descobri isso?
No último domingo (29/01) eu fui convidada para fazer parte da Mesa Redonda sobre O Lago dos Cisnes, que aconteceu no Ballet Adulto KR, em São Paulo. Organizado por Karen Ribeiro, o evento contou com a ilustre presença de Eliana Caminada, que é simplesmente a maior historiadora da dança do nosso país. Uma simpatia de pessoa e com um conhecimento... que faltam até palavras para descrever! Entre outros convidados, também estiveram presentes o historiador Vinícius Marino, a pianista Rosely Chamma e a maetrisse de ballet Liliane Benevento. Foram duas horas e meia de discussão. Tive a oportunidade de compartilhar o conhecimento que adquiri nesses sete anos de blog, mas vou confessar uma coisa: nesse curto espaço de tempo eu percebi que sou apenas um pequeno cisne em meio a um lago gigante de informações! Posso dizer que o que aprendi nesse dia talvez eu levasse outros sete anos (ou mais) para aprender por conta própria. Foi muito gratificante!
Dona Eliana trouxe luz à diversos pontos da história de O Lago dos Cisnes que, eu tenho certeza, muitos de nós nunca paramos para pensar! Mas essas considerações eu vou deixar para outro momento (estou preparando um vídeo pós-mesa redonda para comentar tudo isso).
É fato que o foco da discussão foi O Lago dos Cisnes, mas outras peças também entraram na dança. Afinal de contas, como falar de Tchaikovsky sem lembrar de seus outros ballets? O que dona Eliana contou a respeito de A Bela Adormecida faz total sentido: A intenção de Marius Petipa era traçar uma linha do tempo entre a chegada do ballet de corte à França, com Catarina de Medicis, e a época de Luís XIV, momento em que essa técnica passou por todo o processo de evolução e desenvolvimento.
Só para entendermos, durante a época dos ballets de corte, as mulheres quase não podiam dançar devido aos pesados figurinos e muitas vezes ficavam paradas, apenas sendo cortejadas pelos partners. Agora vocês entendem o porquê daquele eterno attitude derrière durante o Adágio da Rosa? Afinal de contas, segundo as palavras de dona Eliana, o attitude derrière é uma "posição acadêmica que limita o corpo à poucas formas de expressão". Até mesmo na variação de Aurora, no primeiro ato, nós podemos observar muitos momentos de equilíbrio, nos quais ela quase não se mexe.
Quando Aurora cai no sono e desperta cem anos depois, ela acorda justamente na época de Luís XIV! É possível perceber, por exemplo, que no Grand Pas de Deux do terceiro ato, alguns passos do Adágio da Rosa são retomados, mas de uma forma nova, com maior liberdade de movimentos.
Resumo da Ópera (ou melhor, do ballet): Petipa e Tchaikovsky foram geniais, não é mesmo? E digo mais: quem implicava com aquelas perucas brancas, pode parar com isso agora mesmo! Elas estão ali, compondo o figurino, por um motivo sólido e não uma mera vontade dos coreógrafos que já remontaram esse espetáculo.
Eu sou muito grata pela oportunidade de aprender com quem sabe tanto! Uma coisa é certa: eu nunca mais vou assistir esse e todos os repertórios comentados na Mesa Redonda do mesmo jeito que antes. E dona Eliana também contou outras histórias além dessa, mas que vão ficar para outro dia...
O vídeo de hoje é mais uma contribuição do nosso amigo Maurice Lugher.
E agora, sem mais delongas, vamos dançar!
A Bela Adormecida
Companhia: The Bolshoi Ballet
Ano: 2017
Elenco:
Olga Smirnova como Princesa Aurora
Semyon Chudin como Príncipe Désiré
Yulia Stepanova como Fada Lilás
Alexei Loparevich como Carabosse
Download:
https://drive.google.com/file/d/1sRPenGPFBOvqDh28SLdS1SWlWQYp5rHo/view?usp=sharing
Formato do Vídeo: .avi
Aplicativos Úteis: Clique Aqui!
Como sabem, as transmissões no cinema de 2017 já começaram com o pé direito! Depois de Romeu e Julieta com o Teatro Scala, hoje é a vez de trazer o primeiro ballet do Bolshoi exibido esse ano, em 22/01: A Bela Adormecida, com nada menos que Olga Smirnova no papel principal e a presença da nossa brasileira Bruna Gaglianone como a segunda fada madrinha!
Aliás, eu tenho uma pergunta: alguém aqui já parou para pensar no porquê de algumas produções apresentarem o baile de casamento do terceiro ato ao estilo da corte do Rei Luís XIV?
Para ser sincera com vocês, eu realmente achava que fosse invenção de moda ou até mesmo uma homenagem por parte de alguns coreógrafos, como é o caso das versões de Rudolf Nureyev (Ópera de Paris e Teatro Alla Scala) e Yuri Grigorovich (The Bolshoi Ballet), versões onde essa característica fica mais evidente. Mas eu percebi que estava redondamente enganada, que há um fundamento por trás dessa ambientação. Como eu descobri isso?
No último domingo (29/01) eu fui convidada para fazer parte da Mesa Redonda sobre O Lago dos Cisnes, que aconteceu no Ballet Adulto KR, em São Paulo. Organizado por Karen Ribeiro, o evento contou com a ilustre presença de Eliana Caminada, que é simplesmente a maior historiadora da dança do nosso país. Uma simpatia de pessoa e com um conhecimento... que faltam até palavras para descrever! Entre outros convidados, também estiveram presentes o historiador Vinícius Marino, a pianista Rosely Chamma e a maetrisse de ballet Liliane Benevento. Foram duas horas e meia de discussão. Tive a oportunidade de compartilhar o conhecimento que adquiri nesses sete anos de blog, mas vou confessar uma coisa: nesse curto espaço de tempo eu percebi que sou apenas um pequeno cisne em meio a um lago gigante de informações! Posso dizer que o que aprendi nesse dia talvez eu levasse outros sete anos (ou mais) para aprender por conta própria. Foi muito gratificante!
Dona Eliana trouxe luz à diversos pontos da história de O Lago dos Cisnes que, eu tenho certeza, muitos de nós nunca paramos para pensar! Mas essas considerações eu vou deixar para outro momento (estou preparando um vídeo pós-mesa redonda para comentar tudo isso).
É fato que o foco da discussão foi O Lago dos Cisnes, mas outras peças também entraram na dança. Afinal de contas, como falar de Tchaikovsky sem lembrar de seus outros ballets? O que dona Eliana contou a respeito de A Bela Adormecida faz total sentido: A intenção de Marius Petipa era traçar uma linha do tempo entre a chegada do ballet de corte à França, com Catarina de Medicis, e a época de Luís XIV, momento em que essa técnica passou por todo o processo de evolução e desenvolvimento.
Só para entendermos, durante a época dos ballets de corte, as mulheres quase não podiam dançar devido aos pesados figurinos e muitas vezes ficavam paradas, apenas sendo cortejadas pelos partners. Agora vocês entendem o porquê daquele eterno attitude derrière durante o Adágio da Rosa? Afinal de contas, segundo as palavras de dona Eliana, o attitude derrière é uma "posição acadêmica que limita o corpo à poucas formas de expressão". Até mesmo na variação de Aurora, no primeiro ato, nós podemos observar muitos momentos de equilíbrio, nos quais ela quase não se mexe.
Quando Aurora cai no sono e desperta cem anos depois, ela acorda justamente na época de Luís XIV! É possível perceber, por exemplo, que no Grand Pas de Deux do terceiro ato, alguns passos do Adágio da Rosa são retomados, mas de uma forma nova, com maior liberdade de movimentos.
Resumo da Ópera (ou melhor, do ballet): Petipa e Tchaikovsky foram geniais, não é mesmo? E digo mais: quem implicava com aquelas perucas brancas, pode parar com isso agora mesmo! Elas estão ali, compondo o figurino, por um motivo sólido e não uma mera vontade dos coreógrafos que já remontaram esse espetáculo.
Eu sou muito grata pela oportunidade de aprender com quem sabe tanto! Uma coisa é certa: eu nunca mais vou assistir esse e todos os repertórios comentados na Mesa Redonda do mesmo jeito que antes. E dona Eliana também contou outras histórias além dessa, mas que vão ficar para outro dia...
O vídeo de hoje é mais uma contribuição do nosso amigo Maurice Lugher.
E agora, sem mais delongas, vamos dançar!
A Bela Adormecida
Companhia: The Bolshoi Ballet
Ano: 2017
Elenco:
Olga Smirnova como Princesa Aurora
Semyon Chudin como Príncipe Désiré
Yulia Stepanova como Fada Lilás
Alexei Loparevich como Carabosse
Download:
https://drive.google.com/file/d/1sRPenGPFBOvqDh28SLdS1SWlWQYp5rHo/view?usp=sharing
Formato do Vídeo: .avi
Aplicativos Úteis: Clique Aqui!
Thank you very much for this, and for Konservatoriet. Do you know who staged Konservatoriet?
ResponderExcluirHi David!
ResponderExcluirI don't no, I'm sorry!!!
Please, enjoy it!
Aaah, por favor nos conte mais sobre as histórias que você ouviu! Somos tão carentes dessas informações fantásticas... Obrigada por compartilhar com a gente!
ResponderExcluirOlá Raphaela!
ExcluirRealmente, foram histórias incríveis!!! Coisas que eu nunca tinha parado pra pensar... Foi uma experiência muito rica e gratificante!
Pode deixar que, ao longo dos próximos posts, vou mencionar mais coisas que aprendi. Além disso, também estou pra lançar um vídeo no meu canal pra falar da mesa redonda (esse vai ser mais voltado para o Lago).
Não precisa agradecer!!! Ver mensagens como a sua são a minha maior recompensa!
Obrigada pelo carinho ^^
Muito legal a sua explicação sobre os balés de corte e tudo, mas se me permite fazer uma pequena observação: você está correta quando diz que Petipa quis fazer uma linha do tempo entre os atos do balé A Bela Adormecida, a princesa Aurora completa seus 16 anos durante o início da tradição do balé francês, bem no auge do reino de Luís XIV, o ápice do barroco (é possível perceber as referências barrocas na música de Tchaikovsky), porém, ela acorda da sua maldição de 100 anos no fim do período rococó, que é o início do reino de Luís XVI (marido de Maria Antonieta). Pelos figurinos fica bem evidente a diferença de eras (as perucas compridas, cacheadas e as cores vibrantes do período barroco de Luís XIV, e as perucas brancas com os rolinhos e laçarotes, as cores pastéis do período Rococó). Isso fica bem evidente das produções da Ópera de Paris e do Bolshoi. Inclusive, um dos melhores exemplos que você postou aqui no blog, é a versão do Balé Dinamarquês, onde a história se passa na Rússia, e no prólogo e primeiro ato eles usam os figurinos inspirados na moda russa antes da interferência do ocidente trazida por Pedro o Grande, e no segundo e terceiro atos, já se percebe a moda rococó do período de Catarina a Grande. Portanto, além dos fatos óbvios na composição musical e coreográfica, através dos cenários e figurinos, nós conseguimos colocar a história da Bela Adormecida entre 1670 (o primeiro ato) e 1770 (o terceiro ato).
ResponderExcluirOi Pedro, tudo bem?
ExcluirObrigada pelo seu comentário! As informações que compartilhei nesse post foi em relação ao que aprendi com Eliana Caminada, uma das maiores historiadoras da dança no Brasil. Nas palavras dela, "a intenção de Marius Petipa era traçar uma linha do tempo entre a chegada do ballet de corte à França, com Catarina de Medicis, e a época de Luís XIV."
Tempos depois desse post e da mesa redonda que participei, eu aprendi esse outro ponto que você cita no seu comentário, que na verdade a história começa sim na época de Luis XIV, mas se conclui no século seguinte. Inclusive, os próprios figurinos masculinos retratados no segundo ato, na corte do príncipe, têm um estilo mais sóbrio e remete à época de Napoleão Bonaparte. São muitos detalhes interessantes que envolvem a criação de um repertório. É isso o que me fascina nesse estudo.
Grande beijo!